Historicamente, o papel do professor sempre foi de grande relevância na sociedade, sobretudo no Velho Continente, e que só era possível pelas famílias mais abastadas, a contratar seus serviços eis que a educação não estava ao real alcance de todos. Era um prestigio de poucos. No Brasil Colonial, as famílias que possuíam essas condições, ofertavam aos seus filhos os ensinamentos e conhecimentos dos mestres, diretamente em suas residências. Prestigio esse que faz-nos relembrar de D. Pedro II, imperador Brasil, pela expressão: "Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro", deferimento e reconhecimento a arte e/ou tarefa de ensinar - Dizem que ele só se curvava para o professor! Posteriormente, os afortunados eram reconduzidos aos colégios e universidades da Europa para receber os títulos advindos do letramento inicial, e outras especialidades etc.
De lá para cá, mudanças ocorreram e a educação deixou de ser um privilégio de alguns e passou a ser direito de todos. A Constituição Federal de 1988 em seu art. 205 assegura: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Destaque e grifo nosso. Podendo-se extrair que a educação é um direito de todos; um dever do Estado, da família e da sociedade ao pleno desenvolvimento do indivíduo, inclusive na conquista do trabalho, e consequentemente na independência, liberdade e cidadania, ou seja, uma educação que prepara e liberta, contrária da que aparta, discrimina e escraviza.
Destarte, tem-se original, e constitucionalmente, que educação é um dever de todos com determinação, participação e responsabilização de todos, inclusive com implantação de regras e limites, senão, dar-se-ia outro nome, porquanto ideal da Nação. É sempre oportuno lembrar que Educação não se traduz só com o professor; tampouco, somente a ele, imbricar responsabilidades, razão pelo qual muitos não queiram abraçar tamanho desafio. Mister será outras considerações, ponderações, e, colaborações.
Hodiernamente, o que se constata é o descompasso entre o razoável e o minimamente possível, oferecido pelo Estado. A sociedade sucumbe nos seus ideais quando não alcança o meio ou adequação ao fim proposto e desejado por todos, gerando grande insatisfação social. E neste descompasso, encontra-se o profissional da educação brasileira, inclusive exaurindo-se físico e emocionalmente pela falta do reconhecimento laboral ou na própria desvalorização diária da profissão como o que se lê in verbis.
"Sou professora do Estado do Paraná e
fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula
Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos
sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões
que geram este panorama desalentador.
Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar
as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os
professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de
estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a
realidade brasileira. Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas
vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital?
Em que pais de famílias oriundas da pobreza trabalham tanto que não
têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em
orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e
destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas
para dentro da maioria das escolas brasileiras. Está na hora dos professores se
rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade
deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.
Não gosto de
comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e
avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais
velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem
escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje
“repletos de estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não
fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da
noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas
drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida. Realmente, nada está bom.
Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e
...disciplina.
Rememorando,
o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos?
Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se
estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os
jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais. Para quê o estudo? Por
que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens?
Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os
amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas aulas, havia
respeito, amor pela pátria...Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos
aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com
fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar
pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para
isso.
Hoje,
professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com
tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o
que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e
outros locais educativos (benza, Deus, só os mais corajosos!) e, algumas
escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até à passeios interessantes,
planejados, minuciosamente, como ir ao Beto Carrero. E, mesmo, assim, a
indisciplina está presente, nada está bom. Além disso,
esses mesmos professores “incapazes” elaboram atividades escolares como provas,
planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;
Todos os
profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão
cansados. Professores têm 10m. de intervalo, onde tem que se escolher
entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais
têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho,
pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40 h.semanais. E a saúde? É a única
profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as
aulas. Plano de saúde? Muito precário. Há de se pensar,
então, que são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos
menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de
ensinar, os que estão aposentando-se e estão perplexos com as mudanças havidas
no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos
devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que
esforcem-se em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de
“vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e
temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave. Temos
notícias, dia-a-dia, até de agressões a professores por alunos.
Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.
Lembro de um
artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país
sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo
limite. E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não
merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de
aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com
indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem
escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não
passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.
Por que os
alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais
capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina. E é
isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual
só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são
realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos
professores está constantemente estudando e aprimorando-se.
Em vez de
cronômetros precisamos de carteiras escolares, livros, materiais,
quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas),
e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade. Existem muitos
colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E
é essa a nossa realidade! E, precisamos, também, urgentemente de educação
para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo
Em plena era
digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de
chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim
ouve-se falar em cronômetros. Francamente!!!
Passou da
hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade
no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade
incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores até
agora não responderam a todas as acusações de serem despreparados e
“incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não
tiveram TEMPO. Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e
duas turmas sem as provas corrigidas".
Desabafo de uma professora do Colégio Estadual Júlio Mesquita, em resposta à Revista Veja, e a jornalista, Roberta Abreu, Edição 2170/10, "Aula Cronometrada".
Paradoxalmente, notório e sabido é a importância desses profissionais pelo sucesso no desempenho de suas atividades e/ou especializações, sobretudo na Rede Pública de Ensino, haja visto os parcos recursos, desvios de interesses e ausência de vontade política a excelência, e mesmo não tendo reconhecimento de alguns segmentos da sociedade, dentre os quais parte da mídia e imprensa brasileira, continuam fazendo o grande diferencial pelo país.
Assim, da teoria à prática, dos estímulos e desafios ao desempenho diário e rotina profissional, tem-se, nossos educadores, e, portanto, berdadeiros guerreiros na luta por uma educação de qualidade, afinal, parafraseando o poeta,
"Se cuidarmos da educação não carecemos construir cárceres".
Aliás, pelo relato, lamentável, Infelizmente, com o passar dos anos, e pela inércia do Estado, tenha-se que ler e/ou ouvir desabafos como o dessa educadora. Melhor será a observação, e laboratório
in loco, a real análise de casos. Apesar dos "muros" a porta está aberta!
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