domingo, 31 de março de 2013

Uma questão de interpretação


Certamente, a atividade do docente não é nada fácil, principalmente quando se lida com adolescentes e suas efervescências, próprias da idade. Atualmente já não basta o amor a profissão, mas sobretudo paciência e muita disposição para o trato que a questão requer, sempre e sob iminente estresse, verificados diuturnamente, onde o ambiente escolar tornou-se, via de regra, um "barril de pólvora" e/ou "bomba-relógio". Necessário, pois, reflexões acerca de inusitados contextos.

Isso faz relembrar algumas histórias!

Numa dessas acaloradas aulas, uma turma resolveu boicotar a aula daquela professora - provavelmente pouco interessante aos olhos de alguns jovens - impedindo-a de ministrar a tão planejada revisão para a prova, cuja atividade anterior poucos responderam, portanto, sem o resultado desejado, deixando desde logo a mestre bastante desapontada, senão, indignada. 

Do mesmo modo, naquele dia ao ser impedida de entrar, noutra sala - ou seria sair de sala? - na troca de horário, professor e componente curricular, alunos aglomerados na porta, fora de sala, e, via de regra, comum é vê-los chutando qualquer coisa, e/ou pelas brincadeiras indesejáveis ou pouco recomendáveis, instantes em que uma lata de refrigerante, com substância duvidosa, concomitantemente com uma bola, oriunda sabe-se lá de onde, atravessou-lhe o caminho, acertando-a em cheio a sua cabeça, fazendo-a girar. Isso faz lembrar da professora Maria de Fátima Costa dos Santos, Franco da Rocha, São Paulo, que quase ficou cega, após ser atingida com lata de lixo, após o corte de energia e arrastões em sala de aula.

Ainda muito irritada, procura a Direção e Conselheiro da turma, sugere apuração e devida medida punitiva, a quais seriam pela retenção de carteirinhas, cancelamento do passeio anteriormente programado, chamamento dos pais e/ou responsáveis para ciência, eis que se tratava do último bimestre,  apurado e do conhecimento de todos, pelo menos dos envolvidos, remetendo-os provavelmente a uma reprovação generalizada.

Tumulto contido, eis que ao adentrar em outra sala, ela, descobre de onde partira a bola. É, aquela! que lhe atravessara o caminho anteriormente, e ouvir em tom de zombaria, qual o proprietário, o responsável pelo chute certeiro, e demais concorrentes da latinha de refrigerante ao passe facilitador que a colocara,  no mínimo, em situação vexatória ou ridicularizada diante todos.

E, sem pensar, disparou: Vocês conhecem as regras da boa convivência, mas preferem ignorá-las. Alguns insistem em agir como filho de chocadeira! Como???? Momento em que alguém retruca: Filho de chocadeira? É, ela ratificou: Sim, filho de chocadeira, porque muitos não sabem o significado da palavra família. Aprendizado e educação pressupõem-se começar, iniciar-se em casa com a família, a partir de regras, limites, compromissos, exemplos e espelhos, eis que a conotação dada a expressão "Filho de chocadeira" remete-nos para aquele que foi ou está sendo criado fora da mãe, sem sentimento de amor universal, respeito pelo outro, sem o mínimo de princípios, e do contrário, saberia distinguir os valores morais, espirituais, éticos, cidadãos, bom comportamento social, e que devem a todos nortear, sobretudo no ambiente escolar.

Porém, o que deveria ser algo razoável, sanável e positivado ao crescimento de todos, tornou-se objeto de ilações, controvérsias e desentendimentos, eis que depois da chamada "pagação de sapos" pela professora alguns teriam entendido a seu modo e valor - imaginara esta ter alcançado o objetivo pelo ensinamento daquela estressada aula  - e alguém se insurgiu, alegando em nome próprio -  e alheio! - ofensa e humilhação nas palavras proferidas por ela, apesar de não ter sido dirigida individualmente a ninguém.

No dia seguinte, reunião com a turma, pais e/ou responsáveis, Direção e demais professores. É, aquela, inicialmente do tumulto, depois da retenção das carteirinhas e na qual, alguns alunos atribuíram aos professores, conduta diversa de desrespeito também para com eles, inclusive com algumas citações e ilações ocorridas,  em outras turmas, mas que eles, em sua defesa se apropriaram. Certamente para desviar ou desvincular qualquer punição que os detivesse, eximisse ou retirasse os benefícios, inclusive o passeio preparado pela escola.

E, então, o que era para se apurar com aquela reunião,  inverteu-se pela ordem ou reconvenção. Ou seja, o comparecimento dos pais naquela escola foi tão somente para saber porque aquela (es) professora (o) (s) havia se excedido, contudo, não verificou-se nenhuma preocupação já que a turma apresentava vários problemas de indisciplina, baixo desempenho e notas irregulares. Sequer quiseram ouvir o real acorrido naquela fatídica manhã.

Fato análogo foi veiculado, envolvendo o Colégio Estadual Piratini em Porto Alegre (RS), onde uma aluna que falava ao telefone em sala de aula, teria sido convidada a desligar e/ou guardar o aparelho celular - sob pena de ter que sair da aula haja visto estar atrapalhando a ministração - sentiu-se constrangida com a atitude do professor. Posteriormente, seus pais teriam representado judicialmente em face do mestre, alegando "constrangimento" da filha, momento em que foi contestado pelo cumprimento da norma institucional pelo profissional da educação.

Insta salientar, que o uso de telefones celulares em sala de aula, apesar da restrição inclusive por parte de universidades e faculdades em todo o país - Lei estadual -  tornou-se quase que regra pelos alunos, assim como as cartinhas e/ou baralhos e afins, de modo que sempre exemplificam conflitos entre escolas, alunos e professores, sobretudo em instituições públicos pelos vários conceitos e permissividades de algumas pessoas acerca da deturpação entre o verdadeiro sentido da "res publica" e suas responsabilizações.

E muitos até diriam: "Impressionante! como o adolescente manipula as coisas ao seu favor" ou algo como "Bobo é quem pensa que eles são ingênuos! Em nenhum momento, apesar do contexto, a (o) (s) docente (s) se dirigiu aquela turma, mas aqueles jovens se apropriaram do acontecido em outra turma para se resguardar de possível punição de seus pais, acusando-a (o) (s). Se alguém tinha de reclamar não seria esta, mas sim a outra. Até porque o discurso da docente foi genérico  ou ofensa individualizada.

Vale ressaltar que os próprios pais, em vários momentos da convivência familiar, perdem a paciência com seus filhos, recorrem as punições e cerceamentos vários no sentido de melhor educá-los. O professor não pode, bem como o direito de perder a paciência, inclusive quando é ofendido ou agredido - e, neste caso, em local impróprio, o corredor. A ele é cobrado tudo, mas negado o direito de agir, contraditoriamente. A ele será sempre cobrado coerência, bom-senso, cautela, mas sobretudo sabedoria, em detrimento de qualquer sentimento ou reação inesperada, indesejada ou esdrúxula como possa apresentar.

Assim, ao analisar de forma igual e justaposta, conquanto pouco indigesta, e se colocar no lugar do outro, indaga-se: E se fosse o contrário? Sim, como no caso daquela professora que quase perdeu a visão. Teria sido ela a cortar a energia elétrica da sala e iniciado o arrastão? Quem arcará com os danos ocorridos em razão da agressão sofrida por ela? A quem caberá a responsabilização: O Estado, aluno (s) ou a (s)  família (s) dos infratores? Bem, o inverso pouco importa, diria alguns! O ser humano, profissional, pessoa, eis que todos podem falham, inclusive os professores, inclusive dificuldades em administrar jovens rebeldes, sem objetivos concretos, certamente em razão da idade, salas lotadas, contextos e/ou parâmetros sociais e  familiares diversos.

E muitos até arriscariam pronunciar: "Coitados, ainda, são jovens e pouco sabem da vida"! mas sabem perfeitamente o que fazer para conquistar seus objetivos. Ensinar para educar. E não se mostram tão inocentes em outros aspectos da vida e baila das discussões.

Afinal, o que queremos reproduzir na sociedade?

Pense nisso!

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